Sim, eu entendo que as pessoas que trabalham em televisão recebem um ordenado muito acima da média. Também trabalham mais que oito horas por dia - por vezes, e bem mais que cinco dias por semana - às vezes. Mas sempre achei um EXAGERO os valores praticados.
Vem na primeira página da revista "Correio da Manhã TV" (nº 12 791) a diminuição de salário sofrido por Sónia Araújo. Segundo a publicação, a apresentadora está muito preocupada por lhe removerem quase 6.000€ de ordenado. Ora, uma pessoa comum, que trabalha num emprego não mediático e que se cansa muito a trabalhar em empregos fisicamente exigentes e que pagam pouco, logo se interroga como é que alguém pode sofrer um corte de 6.000€ e ainda ficar com um valor que qualquer indivíduo comum consideraria muito bom para viver.
Sónia recebe 11.800€ por mês.
Vamos lá admitir que é bastante. Não me importa quanto tempo dedica à profissão, esta consiste apenas em estar a apresentar programas - não é muito difícil. Não é como ter de estudar anos a fio para se ser cirurgiã e não poder cometer nenhum erro, pois tal coisa pode significar a morte a alguém. É apenas ser sociável, saber ficar em frente a uma câmara de televisão e apresentar. Requer técnica mas não necessariamente conhecimento de anos e anos a queimar o cérebro em livros. O trabalho de apresentadora televisiva de programas de entretenimento não costuma resultar em nada que vá influenciar diretamente o curso da economia do país, da política, da educação - embora por vezes o mundo mediático e estas vertentes se mesclem bastante. Mas é mais no caso de se ser repórter ou entrevistadora, não apresentadora. Esta tem um contato mais particular com o público.
Acho que o que algumas pessoas habituadas a auferir mensalmente estas quantias elevadas deviam ter em mente é o valor do salário mínimo em Portugal (485€). E depois dividir o que ganham por esse valor, para entender o quanto estão acima da média e o quanto estão a ser beneficiadas. Se lhes cortam ou reduzem para metade? Em casos do salário mínimo esse corte seria desastroso mas cortarem quase 12.000€ por mês pela metade ainda é receber muito bem ao final do ano!
Os seres humanos são criaturas de hábitos. Habituam-se a um ordenado elevado, olham para o lado vêm outros a ganhar muito mais e pensam: "eu mereço mais que tu" e quando lhes cortam o valor revoltam-se. Assustam-se. A instabilidade que toca a todos roça neles também. Sem aqueles empregos podem ficar sem nada e sujeitarem-se ao mercado real, ao mercado não mediático, aos empregos no MacDonalds. Um corte salarial de 50% pode parecer uma injustiça em muitos sentidos, para os que andam no meio mediático - é verdade. Mas todos esses recebem um valor injusto diante da realidade dos salários da maioria dos portugueses e da realidade económica do país. Mesmo com uma percentagem tão elevada de redução salarial continuam a auferir por mês muito mais do que obteriam noutros meios e bastante mais do que outras pessoas comuns que nem em sonhos conseguem sair de valores de três dígitos, quanto mais cinco.