A capa da revista DOMINGO desta semana é assim:
E pela primeira vez concluí sobre este assunto que cada qual teve o que fez por merecer e está onde merece estar.
Renato está onde merece. Não é anjo e tem instintos homicidas e talvez distúrbios mentais.
O assassinado Castro, não era flor que se cheirasse, aliciava a ambição de jovens aspirantes a modelo com promessas de dinheiro e fama e em troca exigia actos sexuais. Viajava na companhia de jovens rapazes para lugares luxuosos onde o anonimato e a impunidade eram garantidos pela distância e tudo entre quatro paredes era possível. Tão possível que foi possível ser morto. Castro sabia tão bem o mal que fazia que havia confidenciado a amigos temer ser assassinado por algum dos seus jovens amantes.
Não sei porquê mas esta reportagem sobre nada de especial, que não acrescenta nada a uma história que não tem volta atrás para dar, pareceu ser mais esclarecedora que qualquer outra. Conta apenas que uma oportunista e jovem jornalista entrou em contacto com o presidiário Renato através de troca de cartas. No total recebeu apenas 4 cartas escritas pelo punho do assassino mas podia ser apenas uma. Com o valor de terem sido escritas pelo assassino, a jovem e ambiciosa jornalista viu uma oportunidade única de atingir notoriedade. Sem pedir autorização a quaisquer dos envolvidos, a jovem decidiu escrever não uma matéria, ou mais uma reportagem - isso seria apenas mais uma entre muitas, mas lançar aquele que é já o segundo LIVRO sobre o ocorrido, usando como «gancho» as cartas manuscritas pelo assassino Seabra. Fiquei sem perceber se esta jornalista de 30 anos aprofundou, investigou ou acrescentou algum dado novo que justifique o assunto ser editado no formato de livro ou se simplesmente vê em tudo isto uma mórbida fonte de fama e rendimento.
Até os pais de Renato - pelos quais qualquer pessoa anónima é capaz de sentir uma imensa compaixão por uma dor que se imagina incompreensivelmente terrível e devastadora, nesta inocente reportagem não sobressaem tão inocentes. Na verdade sobre o pai nada se refere. Este nem é mencionado. A revista fala apenas da mãe (e da avó) de Renato, foi ela a pessoa pela qual a comunicação social mais se interessou, já que também foi ela que não mediu esforços para tentar ajudar o filho aquando o seu julgamento.
O livro agora lançado pela «jornalista» mete esta mãe na capa, numa espécie de triângulo entre ela, o filho e Castro. Insinuando, talvez, que o papel desta na tragédia ocorrida não seja afinal insignificante.
A reportagem menciona que foi a mãe que arranjou para que o filho pudesse conhecer Castro e também menciona que alguns não acreditam quando a mãe afirma que jamais suspeitou que a relação dos dois fosse sexual, visto que andavam sempre juntos, viajavam e foram passar a passagem de ano juntos. Existe uma insinuação de uma mãe obcecada pelo filho e dominadora, incansável e capaz de tudo para ver o filho atingir o estrelato. Também segundo a autora do livro, esta mãe cortou relações com algumas pessoas que a ajudaram nos EUA aquando o julgamento. Ora, não cai bem para a imagem de ninguém ver escrito que virou as costas a muitas das pessoas que no momento mais difícil da sua vida lhe estenderam a mão em auxílio. É um acto praticamente indesculpável. Não é o que concluiriam? Esta é só mais uma ligeira insinuação que levanta dúvidas sobre o carácter da senhora. Será verdade? Será um esticão e tanto? Não sei. Só sei que pela simplicidade de tudo, esta reportagem que a meu ver insinua ao de leve que a mãe «lançou» propositadamente o filho para a cama de um velho pedófilo a fim deste conseguir fama e fortuna acabou por me fazer concluir que cada um teve, afinal, aquilo que merecia.
É uma ideia violenta. Trágica. Mas será absurda?